
Prepare os relógios: uma medida conhecida pelos brasileiros pode estar prestes a retornar. Após ser extinto em 2019, o horário de verão está no centro de um debate que pode resultar em sua reimplementação entre novembro de 2025 e março de 2026. Mas desta vez, a proposta vem carregada de novos argumentos, críticas e um contexto energético e ambiental completamente diferente.
Neste artigo, vamos além da notícia e exploramos os porquês, os impactos reais e a divisão de opiniões que cercam o retorno desta prática.
A proposta em análise sugere que o horário de verão tenha início no terceiro sábado de novembro de 2025 (dia 15) e se estenda até o terceiro domingo de março de 2026 (dia 15).
É crucial entender que a mudança, se aprovada, não será nacional. Seguindo o modelo antigo, apenas as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste adiantariam seus relógios em uma hora. Os estados das regiões Norte e Nordeste permaneceriam no horário padrão de Brasília (BRT), mantendo sua rotina inalterada.
O principal motor por trás da discussão é a segurança do sistema elétrico nacional. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aponta para um problema crítico que ocorre diariamente no fim da tarde, o conhecido "horário de ponta".
18h às 21h: É quando há uma transição perfeita de crises: o consumo de energia nas residências dispara com a chegada das pessoas do trabalho, ao mesmo tempo em que a geração de energia solar (fonte intermitente) desponta com o pôr do sol. Para equilibrar a equação, o país é obrigado a acionar as usinas termelétricas.
O problema? Termelétricas são uma solução mais cara (impactando diretamente na conta de luz) e muito mais poluente, por dependerem da queima de combustíveis fósseis.
É aí que entra o horário de verão. Ao adiantar os relógios, ganha-se uma hora extra de luz natural à tarde. Isso significa:
Redução do pico de demanda no horário mais crítico.
Menor dependência das custosas e poluentes termelétricas.
Diminuição do risco de sobrecarga e até de apagões localizados.
Economia financeira para todo o sistema e, consequentemente, para o consumidor.
O setor de serviços é um grande entusiasta da volta da medida. Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), defende a medida como "estratégica" e de "fácil aplicação".
A lógica é simples: com mais luz natural ao final do dia, as pessoas tendem a permanecer mais tempo fora de casa. Isso movimenta o comércio, bares, restaurantes, turismo interno e atividades de lazer ao ar livre, aquecendo a economia local.
Apesar dos aparentes benefícios, o horário de verão não é um consenso. Sua extinção em 2019 se deu justamente pelo aumento das críticas, que continuam válidas:
Impacto na Saúde e no Bem-Estar: Estudos da área de cronobiologia indicam que a mudança abrupta no fuso horário pode causar distúrbios do sono, estresse, irritabilidade e cansaço. O "relógio biológico" leva dias, ou até semanas, para se adaptar completamente, o que afeta a produtividade e a qualidade de vida.
Eficiência Questionável: Com a popularização de lâmpadas de LED muito mais econômicas e a expansão da energia solar, o argumento da "economia de energia" perdeu força. Críticos argumentam que o ganho energético atual é marginal se comparado ao desconforto social causado.
Divisão Regional: A medida aprofunda as diferenças regionais. Moradores do Norte e Nordeste, que não alteram o relógio, criticam a bagunça gerada em agendas nacionais, programações de TV e horários de voos, criando um país com "dois fusos" de fato.
O contexto internacional adiciona uma camada estratégica ao debate. Em 2025, o Brasil sediará a COP30, em Belém (PA). O país estará no centro do palanque global sobre mudanças climáticas e será cobrado por ações concretas de sustentabilidade.
Neste cenário, rejeitar uma medida de baixo custo que reduz emissões de gases poluentes (ao evitar termelétricas) pode ser visto como um tiro no pé diplomático. Os defensores da medida argumentam que é incoerente discursar sobre preservação ambiental e deixar de adotar uma solução prática que alivia a pressão sobre a matriz energética.
A volta do horário de verão está longe de ser um fato consumado. Ela é, acima de tudo, um debate complexo que coloca em balança a eficiência energética, o estímulo econômico e a sustentabilidade contra o bem-estar individual e a logística nacional.
Enquanto o governo federal, o ONS e o Congresso Nacional avaliam os prós e contras, a população das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste deve ficar atenta. A decisão final, seja ela qual for, definirá não apenas a posição dos ponteiros do relógio, mas o rumo que o país pretende tomar para equilibrar progresso, planeta e pessoas.
Fique de olho: As câmaras técnicas do ONS devem emitir novos pareceres ao longo de 2024, e a decisão final deve ser formalizada por um decreto presidencial até meados de 2025. Acompanharemos de perto todas as novidades.
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